sábado, outubro 29, 2005

Sucessão Política




A estabilidade governativa que a Madeira atravessa, tem como principais alicerces a coesão, a firmeza e a estabilidade interina do PSD/Madeira, focado no seu líder incontestado Alberto João Jardim. É a existência deste poder político forte, que constuitui o motor principal do desenvolvimento da economia da RAM. Não é o objectivo deste post discutir polémicas eleitorais e governativas, mas apenas analisar as alterações que a política madeirense sofreu neste ano, mais concretamente no seio do PSD/Madeira.

O carisma e o pulso forte que AJJ imprimiu na política madeirense, fez com que desde muito cedo não houvesse necessidade de eleições para líder. Quanto mais os anos passavam, esse estatuto afirmou-se de uma forma inédita, e incontestada. A maneira simples, directa e muitas vezes politicamente incorrecta fizeram AJJ um governante virado para o povo, em vez da classe política. Nunca um militante do PSD/M ousou desafiar as decisões do líder, e AJJ não perdoava traições no seio dos sociais democratas madeirenses. Foi esta presença forte, aliada a uma oposição medíocre, que construiu um PSD forte e coeso por toda a ilha, e disciplinado internamente.

Este ano, discutiu-se a alteração da lei eleitoral na Madeira. Suprendendo tudo e todos, AJJ sem o conhecimento da comissão política PSD/M, dá luz verde para que Guilherme Silve aprove na AR um acordo entre PSD e PS, de modo a implementar na Região um círculo eleitoral único. A notícia caiu como uma bomba na sede do PSD/M. Coito Poita, deputado na Assembleia Legislativa Regional e vice-presidente da bancada PSD, manifestou-se completamente contra estra proposta e mostrou-se surpreendido pelo acordo, visto que esta proposta não tinha como autores nem o PS, nem o PSD, mas sim a CDU. "Criando-se um único círculo para toda a Região, estamos a admitir que, no futuro, não sendo possível conseguir a maioria absoluta dos deputados, a Madeira ficará ingovernável", afirmou o deputado. A implementação de um círculo único (bem como a redução do número de deputados de 68 para 47), faria com que a maioria absoluta do PSD no parlamento regional, ficasse muito mais reduzida. AJJ estava ausente quando a polémica estalou, e dias depois era marcada uma reunião da comissão política do PSD/M. Jardim impôs a sua autoridade, e acalmou os ânimos. "Quem não estiver satisfeito que vá embora." - disse, lembrando que segundos os Estatutos do PSD, era ele o responsável pela tomada de decisões do foro do PSD/M.

Nesta árduo mês para os sociais democratas madeirenses, o problema da sucessão de Jardim e da governabilidade do executivo laranja são temas que voltam a ser debatidos. Uma aliança com o PP não é posta de parte, já que é vital, segundo o PSD/M, impedir que a esquerde chegue ao poder (um facto interessante é que com a nova lei eleitoral, o PP é o partido que mais beneficia e sobe em número de deputados). AJJ propôs-se a reflectir sobre estes temas, e confessou que apenas em 2007 anunciará à população o seu futuro político.

AJJ é um político experiente, e estará sem dúvida a compreender os diversos sinais do desgaste do partido político que lidera. Não acredito que abandonará orfão o partido que ajudou a construir, e que defendeu durante toda a sua vida. Todavia, a sua sucessão não será obviamente tarefa fácil. Um líder com o carisma e a personalidade forte de Jardim, com o seu modo de estar único na política, e a maneira como moldou o partido à sua imagem, fazem com que a continuidade pós-Jardim se torne uma desafio que nem todos estão à altura de empreender. Caso alguém consiga a confiança dos militantes, espera-lhe um desafio ainda maior: a avaliação da população. Após 30 anos habituada a um político a quem conferiam confiança e credibilidade, como regirão a um novo líder? Por outro lado, com AJJ fora de cena, nomes fortes do PS irão sair da sombra. São muitos aqueles que anseiam pela saída do líder laranja, para assaltarem a liderança do principal partido da oposição, pois sabem que a mudança no PSD constitui uma oportunidade única para se afirmarem na região, principalmente após as alterações na lei eleitoral.

A sucessão pós-Jardim terá que ser feita com cautela, e sem pressas. As personagens dessa batalha terão que ser pessoas com grande destaque público, com uma forte experiência política, e na minha opinião com um estilo completamente diferente de AJJ. Digo isto, porque muitos dos "delfins" incorporaram em si próprios o estilo Jardim, sendo esse um péssimo mote para ser o sucessor do actual líder. São poucos aqueles que se encaixam neste perfil, mas existem.

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