segunda-feira, março 07, 2005

Crónicas... "Doze dias"

Doze dias. Foi este o tempo que José Sócrates levou, desde o discurso de vitória no largo do Rato, até à apresentação da sua equipa de governo no palácio de Belém. Doze dias de silêncio absoluto, quase impondo a máxima de “Quem fala, está fora…”. Poucos foram os nomes que saíram para a ribalta, e todos eles apontados com uma grande precaução. Os mais habituais, tal como o do ex-comissário europeu António Vitorino, o eurodeputado António Costa, passando pelo nome revelação da campanha (não, não é Pedro Silva Pereira, o aclamado ‘2º maior “outdoor” desta campanha pelo PS’, mas sim…) – Diogo Freitas do Amaral, acabando no Governador do Banco de Portugal – Vítor Constâncio. Confesso que estive sempre com o “pé atrás” com a maioria dos nomes apontados, e principalmente com enquadramento político do novo governo. A grande maioria dos analistas políticos, apontava para um governo um pouco mais de esquerda, contrastando com a vitória ao centro de Sócrates, de modo a responder à maioria de esquerda, existente no parlamento. Muito sinceramente, não acreditava muito nesta perspectiva, pois vejo José Sócrates em matéria de acção, um político de centro e incapaz de escolher uma equipa governativa que tente colocar em prática políticas de esquerda, propriamente ditas. Contudo, no melhor pano cai a nódoa e a minha humilde experiência política não me permitia discernir com grande à vontade todas estas questões. Decidi então esperar, pela apresentação do elenco. Confesso, que a espera e todo o ambiente pré-divulgação conduziu-me a dois "sentimentos". O primeiro, resultante da notícia fornecida pelo primeiro-ministro indigitado de que iria anunciar a sua equipa completa. Achei a decisão um excelente começo para Sócrates, não só demonstrando o seu empenho por todos os ministérios, como para acabar com muita política-espectáculo, que só serve para alimentar as vorazes televisões sensacionalistas. O segundo factor, negativo (no meu ponto de vista é claro), que se prende com a constituição dos elementos governativos e o “regresso do Guterrismo”. Este assunto, pisado e repisado pela campanha social-democrata e sendo a bandeira preferida de Pedro Santana Lopes, voltava novamente, mesmo depois do silêncio a que se sujeitaram os líderes do PSD. Qual o problema do Guterrismo, perguntam-me. A resposta, não a darei por enquanto aqui, deixando este tema (um dos que mais gosto debater) para outra crónica. Apenas afirmo, que a política guterrista e o cenário em que esta foi posta em prática (todo o jogo que houve por detrás das cortinas…), não foi obviamente bom para Portugal e isso revela-se em diversos referenciais e estudos económicos, sociais, e acima de tudo políticos. Acho que desde o 25 de Abril, nenhum governo conseguiu tantos ministros e problemas internos como o governo encabeçado pelo engenheiro Guterres. Será que tudo foram cardos? Não. Mas as rosas superaram os espinhos dos cardos? Veremos esta questão respondida noutro espaço. Retomando o assunto que estava a tratar, esta semana de silêncio incutiu-me uma reflexão sobre se Sócrates iria ou não apostar numa versão Guterres II. Se tivessem me colocado essa questão durante a campanha, teria respondido quase sem hesitar que sim. Nesta semana, reflectindo um pouco mais, a minha posição atenuou-se um pouco. Para mim, os maiores factores que apoiavam a minha opinião de um regresso governativo guterrista, baseava-se maioritariamente com a eleição de José Sócrates para secretário-geral do partido socialista e a sua antecipada corrida a S. Bento. Na primeira, Sócrates recebeu vários apoios de peso na sua campanha, e muitos deles coordenaram várias iniciativas e projectos, culminando na campanha eleitoral às legislativas. Nomes esses, que tiveram o seu “prémio”. Na minha opinião, o primeiro deslize de Sócrates foram as listas do PS às legislativas. Anteriormente a estas, apenas realço o fórum Novas Fronteiras, coordenado pelo trunfo António Vitorino, cujas ideias debatidas foram muito bonitas, apelativas com um vocabulário de cariz científico, positivo, esperançoso (quase um vocabulário “extra-Portugal”) mas com uma fraquíssima recepção no seio do povo português. Razões procuram-se, ou talvez não seja necessário… Retomando as listas do PS, foram nestas que franzi o olho para muitos dos nomes apresentados. Sócrates falava numa abertura do partido, de uma renovação profunda, mas por algum motivo os números jogavam contra ele. Onze ministros, e dezassete secretários de estado, se não me engano, estavam presentes nas listas do PS. Se isto é renovação, eu devo estar muito atrás no tempo… Pior do que tudo isto, só mesmo a minha imaginação a funcionar com estes números. A constituição de um governo, e os “favores” para serem pagos da subida de José Sócrates, para mim era só somar... Chamem-lhe “jobs for the boys”, empregos por favores, o que quiserem, mas este era um receio que temia durante esta semana, e que a minha pouca experiência política aumentava. Nem falo nas características das pessoas, mas sim neste método de escolha. É com muita relutância que encararia um ministro(a), com um extraordinário currículo e tivesse a sua ascensão motivada por este tipo de “environment”. É óbvio, que este tipo de ascensão é camuflado sempre pelos mais diversos cenários, mas os anos ensinam-nos que a verdade vem sempre ao de cima. Felizmente….
Os doze dias passaram, e enfim o tão esperado elenco governativo acabou por aparecer, sobrevivendo a 288 horas de abutres ávidos de informação. Primeira reacção das pessoas à minha volta, quando os nomes estavam a ser citados: “O Freitas está no governo?”. O elenco ia sendo completo e os comentários mantinham-se: “Não acredito que o Freitas seja ministro…”. Os títulos televisivos mostravam: “Surpresa no governo, Freitas do Amaral novo MNE”. Confesso que também fiquei surpreso, principalmente por duas razões. A primeira prendia-se pelo facto do nome de Freitas do Amaral ter sido falado, neste 12 dias, e portanto era um nome pouco provável (a velha questão do boato sem fundamento...). A outra prendia-se obviamente por questões políticas. Pensei que embora o PS tivesse recebido o apoio do professor, a sua antiga ideologia de direita, faria com que José Sócrates não o colocasse no governo, nem a título de “recompensa”. Enganei-me “à grande e à francesa”… Mas será que a presença de Freitas do Amaral no XVII governo constitucional é algo mau para o país? Creio que depende do ponto de vista. Para mim, a suas anteriores cores políticas pouco significam, já que as cores políticas têm sido alteradas com o passar dos anos, e de acrodo com os seus presidentes... As suas ideologias, as suas crenças e projectos, esses sim interessam… É neste prisma, que a presença de Freitas do Amaral neste elenco me preocupa. Tal como o secreário-geral do CDS Nuno Melo e o próprio Paulo Portas, referiaram-se no dia a seguir à apresentação da lista governativa, “as posições do prof. Freitas do Amaral são preocupantes…”. Assim é, nos últimos anos o professor tem tomado posição em movimentos anti-americanos e de política de esquerda que são inegáveis. Será que vai manter esse rumo, essa é a questão que se impõe. Marcelo de Rebelo de Sousa, para além deste facto aponta o “desconhecimento de Freitas na área de política internacional” (já que não acompanhou o evoluir do rumo desta nos últimos 25 anos, mesmo tendo desempenhado cargos como presidente da assembleia da ONU e o cargo de MNE), e a falta de vigor e dinamismo, factor essencial para um bom MNE. Não acho que estas razões estejam completamente apropriadas, nem que tenham uma relevância crucial para o perfil do cargo, já que em parte não são bem correctas. É algo duvidoso que um homem como o Prof. Freitas do Amaral esteja completamente fora da área da política externa, com o seu interesse na área e os meios de informação existentes hoje em dia. Quanto ao dinamismo do MNE, acho que Freitas do Amaral está muito bem preparado para surpreender (esperemos que pela positiva), pois os seus anteriores cargos prporcionaram-lhe uma experiência política inegável em questões de diplomacia e de discussões internacionais, alfo mais importente do que fazer 30 minutos de caminhada... Digo eu....
Segundo nome mais falado (ultrapassando nas horas seguintes Freitas do Amaral), foi a escolha para a pasta “number one”, a pasta das finanças. Campos e Cunha foi a escolha de Sócrates, para solucionar o grave problema das contas públicas. Um currículo admirável como académico, e boas provas de conhecer a realidade económica portuguesa e mundial (como vice-governador do banco de Portugal). Qual a minha opinião sobre este ministro? Nenhuma, apenas desejo que o seu currículo se reflicta na sua acção no ministério das finanças, empreendendo um espírito reformista, de rigor, de modo a colocar um travão nas despesas públicas, e a cumprir o pacto de estabilidade. São estas as prioridades apontadas por vários economistas e os caminhos a que muitos dos anteriores ministros fugiram.
Quantos aos restantes ministros, gostaria de falar de António Costa (Ministro de Estado e da Administração interna) desejando que não repita o anterior desastre da justiça, quando decretou vários projectos que “esgazearam” olhos de advogados por todo o país… (Fiquei surpreso quando ouvi a mini-biografia deste na TV – "um currículo invejável,… um profundo conhecimento da área,… continuação de um excelente de trabalho, depois da passagem pela justiça,…" etc.). Quanto a Manuel Pinho (Ministro da Economia) espero o cumprimento das medidas que defendeu no “Compromisso Portugal”. Quanto a Isabel Pires de Lima (Ministra da Cultura) deixarei os comentários para outra altura, as razões para tal serão compreendidas a seu tempo... Luís Amado (Ministro da Defesa), um excelente ministro a meu ver (embora secretário-de-estado de Guterres...), que seguramente irá fazer um bom trabalho na defesa. Todavia, penso que estaria melhor posicionado nos negócios estrangeiros. Nota final para Maria de Lurdes Silva (Ministra da Educação), uma total desconhecida... Espera-se pelo melhor, e pelo pior.... Aos restantes ministros, esperam-lhe outra crónica, num curto espaço de tempo.

Fiquem bem

2 comentários:

Anónimo disse...

Espero que a pessoa que escreveu venha a ser um bom Ministro da Saúde. Achei o comentário muito rico para um garoto de 12 anos. Quando é que fazes 13? Fico à espera de novas crónicas!

Anónimo disse...

Devias estar realmente inspirado para escrever tanto oh prevaricador. Não te imaginava com tão político discurso...sim sra, estou surpreendida. Temo repetir algumas partes dos discursos da "the brize" e da "black witch"...é que realmente "Eu ainda sou do tempo em que o Freitas do Amaral era do CDS..." e PP e PS, apesar de só mudar uma letra, são azeite e água (se é que me entendes)...
"Eles prometem, prometem, mas depois..." não fazem nd e mudam o "eu irei fazer" para o "eu irei fazer o oposto"...basta atentarmos nas palavras proferidas pelo indigitado ministro das finanças: "É provável que nos primeiros tempos tenha de haver um aumento de impostos. Ainda não sabemos a situação exacta das finanças públicas. Dentro de um mês ou dois meses posso responder de forma mais concreta. O aumento de impostos é de evitar, mas não podemos pôr de lado essa hipótese." Ah pois é...os impostos ñ vão (ups..quero dizer íam)subir...e ficamos por aqui...

beijocas***