Independentemente das posições de cada um sobre o tema, acho imprescindível a leitura deste post do Henrique Raposo:
7. Os defensores dogmáticos do “sim” vivem num ilusão: se o aborto for legal, se existirem condições médicas próprias, então, a questão do aborto clandestino será resolvido. Engano. Trágico engano. O engano típico dos progressistas que tendem a confundir “técnica” e "lei" com “moral”. Acham que uma técnica superior e uma legislação superior moldam a moral retrógrada. Ora, o aborto não é uma questão legal ou técnica. É moral. A moral é de uma ordem acima da lei e da técnica. As miúdas continuarão a fazer o aborto clandestino (ou continuarão a ir fazer o aborto para terras além fronteira) porque “o abortar” é um acto que implica a vergonha. Não é como tirar um dente. Não querem fazer aquilo no hospital da sua terra. Mesmo com aborto legal e tecnicamente assistido, as miúdas (por pressão dos pulhas que têm como pais e como namorados) continuarão a fazer o aborto clandestino. Quem acha o contrário, nunca conheceu ninguém nessa situação. Quem acha o contrário, está ver esta questão no abstracto. Fiquem sabendo que, aqui, não há o abstracto; apenas a vergonha. Não quer isto dizer que estou contra “a interrupção voluntária da gravidez”. (Mas repare-se como se despe a situação da sua carga moral com uma expressão asséptica. É o triunfo da possibilidade da técnica sobre a legitimidade da moral).
8. O “não”, composto por uma brigada de moralistas, quer uma punição pública. Como bons moralistas, acham que o “outro” não tem consciência moral; acham que a mulher não se vai sentir culpada. Não acreditam numa mulher com culpa moral; querem mulheres condenadas pela lei. Uma brigada cheia de telhados de vidro.
O “sim” acha que a lei e a técnica transformarão o problema. Não entendem que a consciência não é filha da lei; não sabem que a moral não é enteada da técnica. Não entendem que há dramas que não têm solução.
9. Um aborto é um acto imoral. Salienta-se: imoral. Não quer dizer que tenha de ser considerado ilegal. É imoral para mim. Mas a minha imoralidade só a mim me diz respeito.
10. Uma mulher (e o pulha que a pressiona) que aborta deve sentir apenas uma coisa: o peso da sua consciência. O peso do estado – da lei - não é para aqui chamado.
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