Joesér Alvarez, "Prisionero de Consciencia"
A propósito deste meu post, onde critico as afirmações do Ministro da Saúde sobre a "relutância" de alguns médicos a efectuarem abortos, o Ricardo responde-me com um texto que me causou alguma surpresa, dado já o conhecer a algum tempo e nunca esperar uma resposta daquele género.
A primeira frase dá o mote: "Pareces um socialista a criticar um liberal e, concerteza, não era essa a tua intenção". Logo de seguida justifica: "Depois de variados textos a defender na saúde uma maior atenção às estatísticas, ou seja, à potencialidade de um sistema privado, com características liberais, fico deparado com este texto em que, frontalmente, o foco é dado não à eficiência ou ao direito de escolha mas à problemática moral dum médico perante um acto médico."
Ricardo, essa visão distorcida da minha argumentação nem parece tua, muito menos essa imputação moral ao socialismo e liberalismo. Para muitas pessoas de esquerda, parece algo evidente que se uma pessoa se preocupa com a eficácia de um sistema, se preocupa com os estudos e estatísticas dos resultados de um certo modelo, esse tecnocrata (palavra que gostas bastante) apenas vê as pessoas como peões no seu enorme tabuleiro de xadrez sociopolítico. Dizer que uma pessoa por ser socialista tem um maior grau de consciência moral pelo próximo do que uma pessoa de direita/liberal, pelo simples motivo que enquanto um socisalista acredita no apoio através de uma redistribuição directa de orçamento e um liberal através da criação de condições para o investimento (de maneira indirecta), revela um pensamento no mínimo perigoso e injusto. É possível que possas ter construido essa impressão de outras pessoas, mas posso afirmar categoricamente que não me revejo nessa segregação.
Se é verdade que defendo um sistema de saúde mais eficaz, no qual as estatísticas são importantes como meio de diagnóstico dos problemas do modelo, bem como para acompanhar as eventuais mudanças, nem por um momento excluo a parte fundamental do sistema - o utente. Que várias pessoas me imaginam como um perigoso neoliberal de sangue frio que só se preocupa com os modelos que discute, não é novidade, mas muito sinceramente não me revejo muito nesse papel anti-social. Lamento.
O destaque que dei à problemática moral do médico tem toda a razão de ser, dado que acredito que o médico deve ter a liberdade para invocar, ou pelo menos questionar-se, com problemas de consciência e de moral no caso particular de indução de um aborto. E aqui não me refiro a doutrinas religiosas, mas aos princípios que regem a consciência de cada um e no qual assenta a sua respectiva moral. Sinceramente não compreendo onde está a incoerência ou a incompatibilidade, entre a minha apologia da eficácia e do direito à escolha com esta matéria.
Colocas-me algumas questões: "E se o médico achar que as cirurgias pláticas são triviais, ou que se recusa a fazer operações arriscadas que possam prematuramente extinguir a vida duma pessoa ou até recusar-se a colocar em risco a vida duma mãe para que haja uma tentativa de nascimento duma criança?"
Essa é uma opção do médico e não vejo qual o dilema caso isso aconteça. Agora ele tem de ter consciência das repercussões que essas opções vão ter. Para além de perder um paciente, no futuro caso esse doente (ou outro) pudesse escolher esse ou outro preocedimento, provavelmente escolheria outro profissional. Ao contrário do que possas pensar, isto é bastante frequente. Por algum motivo, os melhores especialistas do mundo são aqueles que são conhecidos pela coragem em proceder em intervenções complexas e arriscadas.
Continuas a argumentação: "Se as leis apontam - por referendo ou por representação - num determinado sentido, concordes ou não, concordem os médicos ou não, não cabe a estes condicionarem a aplicação dessa orientação."
Correcto, mas temos que ter em atenção no que diz a lei. Esta apenas indica em que situações pode ser realizado legalmente o aborto. Apenas isso. As circunstâncias e outros factores relacionados têm de ser ponderados pelo médico e pela família. Esqueces-te que o facto de um acto não ser judicialmente punido, não implica que deva ser realizado de forma completamente indiscriminada. Para uma pessoa que se assume próxima do socialismo e que critica os liberais por não se preocuparem com a pessoa, pareces menosprezar, em detrimento da lei, a parte fundamental neste processo - as pessoas, tanto os médicos como a família.
Ricardo, essa visão distorcida da minha argumentação nem parece tua, muito menos essa imputação moral ao socialismo e liberalismo. Para muitas pessoas de esquerda, parece algo evidente que se uma pessoa se preocupa com a eficácia de um sistema, se preocupa com os estudos e estatísticas dos resultados de um certo modelo, esse tecnocrata (palavra que gostas bastante) apenas vê as pessoas como peões no seu enorme tabuleiro de xadrez sociopolítico. Dizer que uma pessoa por ser socialista tem um maior grau de consciência moral pelo próximo do que uma pessoa de direita/liberal, pelo simples motivo que enquanto um socisalista acredita no apoio através de uma redistribuição directa de orçamento e um liberal através da criação de condições para o investimento (de maneira indirecta), revela um pensamento no mínimo perigoso e injusto. É possível que possas ter construido essa impressão de outras pessoas, mas posso afirmar categoricamente que não me revejo nessa segregação.
Se é verdade que defendo um sistema de saúde mais eficaz, no qual as estatísticas são importantes como meio de diagnóstico dos problemas do modelo, bem como para acompanhar as eventuais mudanças, nem por um momento excluo a parte fundamental do sistema - o utente. Que várias pessoas me imaginam como um perigoso neoliberal de sangue frio que só se preocupa com os modelos que discute, não é novidade, mas muito sinceramente não me revejo muito nesse papel anti-social. Lamento.
O destaque que dei à problemática moral do médico tem toda a razão de ser, dado que acredito que o médico deve ter a liberdade para invocar, ou pelo menos questionar-se, com problemas de consciência e de moral no caso particular de indução de um aborto. E aqui não me refiro a doutrinas religiosas, mas aos princípios que regem a consciência de cada um e no qual assenta a sua respectiva moral. Sinceramente não compreendo onde está a incoerência ou a incompatibilidade, entre a minha apologia da eficácia e do direito à escolha com esta matéria.
Colocas-me algumas questões: "E se o médico achar que as cirurgias pláticas são triviais, ou que se recusa a fazer operações arriscadas que possam prematuramente extinguir a vida duma pessoa ou até recusar-se a colocar em risco a vida duma mãe para que haja uma tentativa de nascimento duma criança?"
Essa é uma opção do médico e não vejo qual o dilema caso isso aconteça. Agora ele tem de ter consciência das repercussões que essas opções vão ter. Para além de perder um paciente, no futuro caso esse doente (ou outro) pudesse escolher esse ou outro preocedimento, provavelmente escolheria outro profissional. Ao contrário do que possas pensar, isto é bastante frequente. Por algum motivo, os melhores especialistas do mundo são aqueles que são conhecidos pela coragem em proceder em intervenções complexas e arriscadas.
Continuas a argumentação: "Se as leis apontam - por referendo ou por representação - num determinado sentido, concordes ou não, concordem os médicos ou não, não cabe a estes condicionarem a aplicação dessa orientação."
Correcto, mas temos que ter em atenção no que diz a lei. Esta apenas indica em que situações pode ser realizado legalmente o aborto. Apenas isso. As circunstâncias e outros factores relacionados têm de ser ponderados pelo médico e pela família. Esqueces-te que o facto de um acto não ser judicialmente punido, não implica que deva ser realizado de forma completamente indiscriminada. Para uma pessoa que se assume próxima do socialismo e que critica os liberais por não se preocuparem com a pessoa, pareces menosprezar, em detrimento da lei, a parte fundamental neste processo - as pessoas, tanto os médicos como a família.
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