Mesmo tarde, não me esqueci deste post do Hugo Mendes, escrito na sequência de uma discussão que tivémos, a que prometi responder. O Hugo levanta temas e questões muito interessantes no seu texto, que vou tentar responder e comentar.
Parece que no decurso da nossa discussão, o Hugo encontrou no meu estilo (embora não o diga directamente, isso parece ser consensual) alguns truques, que ele classifica como de direita. Não vou aqui aprofundar questões de semântica, ou se fico ofendido com a designação, pois siceramente isso é algo que me é indiferente.
O primeiro truque apontado pelo Hugo, usado pela "direita", é o do socialismo real. O HM afirma que cada vez que uma pessoa fala sobre as políticas de redistribuição, do enfoque sobre a pobreza ou sobre as desigualdades, etc., a resposta habitual é disparar imediatamente contra as experiências do "socialismo real" . Antes de mais é interessante verificar o medo, quase a aversão, com que muitos socialistas ditos moderados, olham para os resultados de uma política socialista plena. Porém, compreendo na perfeição que não gostem de serem indexados nessa forma ideológica, que teve os resultados que todos conhecemos. De qualquer das formas, este também poderia ser um truque usado pela esquerda para classificar a direita. Aqui a parcialidade do Hugo parece que hesita, dado que uma reforma que possa afectar alguns trabalhadores, mesmo que seja provisioriamente, é vilependiada à velha mandeira sindicalista, sem esquecer as velhas e populares denominações de fascismo. Dirá o Hugo que estou a derivar do assunto. Não estou, apenas aponto como uma questão de coerência. O HM tem razão na frase que escreve, nas situações em que delimita e explicita claramente o seu conceito de restribuição, pois não pode esperar que possamos adivinhar em que escala é que defende a ideia.
O segundo truque, é a caricatura que a "direita" faz do conceito de Estado defendido pela esquerda: é que a esquerda imagina que o Estado é uma entidade infalível na acção e perfeita na ética, que teria todas as soluções para os problemas do mundo. Acrescenta logo de seguida que só os socialistas dogmáticos e os fascistas podem pensar assim. Colocando os fascistas de lado, dado que a sua visão de Estado embora não seja de infalibilidade do Estado per se, mas do seu uso (o que vai dar quase o mesmo), o conceito de socialista dogmático é interessante. O Hugo não é muito explícito neste ponto, mas não deverá desviar muito do conceito de socialismo cego ou alheio à realidade. Resta o tal socialismo moderado. Se é verdade que a esquerda moderada, pela voz dos socialistas, não acredita no Estado como entidade infalível na acção e perfeita na ética, eu pergunto que meios ou que ideias defende a esquerda para prevenir, ou melhorar tais factos que são uma realidade. Se a direita, ou melhor, a direita liberal defende a diminuição do peso e da dimensão do Estado em parte para corrigir esse problema, a esquerda, com toda a legitimidade, aponta o Estado como uma instituição com um papel importante na sociedade e embora rejeite a acusação da direita daquela visão do Estado, não a encara e muito menos aponta soluções para ela. No fundo, a caricatura que o Hugo fala, não é mais que uma lacuna do pensamento socialista no que diz respeito ao conceito de Estado.
Por último, o último truque que o Hugo aponta é o das soluções de esquerda, serem consideradas como "utópicas", cheias de "boas intenções" e completamente "ineficazes". Na sua visão, as ideias e projectos da "direita" é que são completamente fantasistas e cuja capacidade para resolver problemas sociais e económicos prementes é próxima de zero. Neste ponto, não há muito para discutir. Eu tenho um grande respeito pelas opiniões, ideias e projectos de pessoas como Hugo, tenho um imenso prazer em discutir com elas os mais diversos temas, mas apesar de tudo, continuo a achar que estou do lado certo da barricada, ou seja, continuo a defender as minhas ideias como as mais competentes para uma determinada situação. Com as discussões que participo, sou forçado a ver por vezes que não tenho razão em certos pontos, e aí não tenho qualquer problema em admitir que estava errado, e concordar com a outra pessoa. Agora, este argumento (ou truque) não pode ser imputado em áreas políticas, pois são habituais em discussões que se personalizam e que reflectem a opinião de cada um, umas vezes com uma conotação mais forte do que cada um tem.
Mas passados os truques da direita, o Hugo refere algo que concordo em absoluto: Para os comunistas, o Estado era o comité da burguesia exploradora, e para os neo-liberais o comité da burocracia cleptocrata. Estão todos uns bem para os outros: não há nada como a pureza metafísico-ideológica anti-estatista para os confortar. E acrescenta: Há, porém, um pequeno problema no meio disto tudo: a pureza metafísico-ideológica dá-se mal com a análise empírica da realidade, e por vezes de mecanismos elementares de funcionamento do "capitalismo de bem-estar". E' aqui que a qualidade das opiniões e dos debates realmente me desilude, porque se transformam opiniões legitímas em asserções empíricas que são em alguns casos muitíssimo duvidosas, e noutras realmente falsas.
Para aqueles que acompanham aquilo que escrevo, conhecem que não tenho muita simpatia por doutrinas puras, que se regem quase exclusivamente por um conjunto de regras invioláveis, abstraindo-se de noções importantes da realidade em nome de uma certa pureza. Eu valorizo muito mais a minha liberdade de pensamento e a lógica que observo nos acontecimentos, do que seguir uma linha que será certamente bem mais coerente em todos os temas conhecidos. É essa diversidade que torna interessante a discussão dos problemas da nossa sociedade e a busca de soluções.
O segundo truque, é a caricatura que a "direita" faz do conceito de Estado defendido pela esquerda: é que a esquerda imagina que o Estado é uma entidade infalível na acção e perfeita na ética, que teria todas as soluções para os problemas do mundo. Acrescenta logo de seguida que só os socialistas dogmáticos e os fascistas podem pensar assim. Colocando os fascistas de lado, dado que a sua visão de Estado embora não seja de infalibilidade do Estado per se, mas do seu uso (o que vai dar quase o mesmo), o conceito de socialista dogmático é interessante. O Hugo não é muito explícito neste ponto, mas não deverá desviar muito do conceito de socialismo cego ou alheio à realidade. Resta o tal socialismo moderado. Se é verdade que a esquerda moderada, pela voz dos socialistas, não acredita no Estado como entidade infalível na acção e perfeita na ética, eu pergunto que meios ou que ideias defende a esquerda para prevenir, ou melhorar tais factos que são uma realidade. Se a direita, ou melhor, a direita liberal defende a diminuição do peso e da dimensão do Estado em parte para corrigir esse problema, a esquerda, com toda a legitimidade, aponta o Estado como uma instituição com um papel importante na sociedade e embora rejeite a acusação da direita daquela visão do Estado, não a encara e muito menos aponta soluções para ela. No fundo, a caricatura que o Hugo fala, não é mais que uma lacuna do pensamento socialista no que diz respeito ao conceito de Estado.
Por último, o último truque que o Hugo aponta é o das soluções de esquerda, serem consideradas como "utópicas", cheias de "boas intenções" e completamente "ineficazes". Na sua visão, as ideias e projectos da "direita" é que são completamente fantasistas e cuja capacidade para resolver problemas sociais e económicos prementes é próxima de zero. Neste ponto, não há muito para discutir. Eu tenho um grande respeito pelas opiniões, ideias e projectos de pessoas como Hugo, tenho um imenso prazer em discutir com elas os mais diversos temas, mas apesar de tudo, continuo a achar que estou do lado certo da barricada, ou seja, continuo a defender as minhas ideias como as mais competentes para uma determinada situação. Com as discussões que participo, sou forçado a ver por vezes que não tenho razão em certos pontos, e aí não tenho qualquer problema em admitir que estava errado, e concordar com a outra pessoa. Agora, este argumento (ou truque) não pode ser imputado em áreas políticas, pois são habituais em discussões que se personalizam e que reflectem a opinião de cada um, umas vezes com uma conotação mais forte do que cada um tem.
Mas passados os truques da direita, o Hugo refere algo que concordo em absoluto: Para os comunistas, o Estado era o comité da burguesia exploradora, e para os neo-liberais o comité da burocracia cleptocrata. Estão todos uns bem para os outros: não há nada como a pureza metafísico-ideológica anti-estatista para os confortar. E acrescenta: Há, porém, um pequeno problema no meio disto tudo: a pureza metafísico-ideológica dá-se mal com a análise empírica da realidade, e por vezes de mecanismos elementares de funcionamento do "capitalismo de bem-estar". E' aqui que a qualidade das opiniões e dos debates realmente me desilude, porque se transformam opiniões legitímas em asserções empíricas que são em alguns casos muitíssimo duvidosas, e noutras realmente falsas.
Para aqueles que acompanham aquilo que escrevo, conhecem que não tenho muita simpatia por doutrinas puras, que se regem quase exclusivamente por um conjunto de regras invioláveis, abstraindo-se de noções importantes da realidade em nome de uma certa pureza. Eu valorizo muito mais a minha liberdade de pensamento e a lógica que observo nos acontecimentos, do que seguir uma linha que será certamente bem mais coerente em todos os temas conhecidos. É essa diversidade que torna interessante a discussão dos problemas da nossa sociedade e a busca de soluções.
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