Num mundo tão globalizado como aquele em que vivemos e onde as relações internacionais se “jogam” com múltiplos intervenientes, é interessante verificar o papel da União Europeia. Parece consensual que a UE deve ter um papel importante no cada vez mais exigente clima político internacional. Muitos vêem a UE como um marco de valores e de ética, em contraposição ao “imperialismo” americano. Consideram vital a existência de uma união firme, coesa, capaz de demonstrar os seus ideais através de um poder político forte no palco internacional. Se, há alguns anos, muitos consideravam este um rumo possível e plausível, hoje cada vez mais se apercebe que a realidade não parece favorecer a UE.
Se no passado a hegemonia americana tornava importante a existência de um contrapeso europeu, actualmente isso não se verifica dada a emergência de novas potências como a Rússia ou a China. Mesmo assim, os líderes europeus desejam ver a Europa com um papel interventivo nas grandes questões internacionais. Porém, é cada vez mais visível a dificuldade de se manifestar essa resposta. Primeiro, porque a opinião europeia está praticamente indexada às decisões (por vezes diferentes) dos 4 grandes (Reino Unido, Alemanha, França e Itália). Segundo, porque enfrenta uma crise interna, de índole quase logística, que se agravou na última década.
A ideia original de Europa idealizada por Jean Monnet, iniciada por um mercado comum, alterou-se radicalmente. As conquistas e ideias iniciais, responsáveis pelo desenvolvimento europeu, começam a perder peso, na tentativa de construir algo megalómano, sem a preocupação de se reflectir sobre o espaço que se está a construir e a sua integração nos princípios fundadores.
Porém, a tentativa de organizar a UE esbarra num aparente paradoxo. É consensual que a Europa deve ter uma opinião coesa, una em diversas matérias. Dessa forma, faz todo o sentido que seja a Comissão Europeia, enquanto organismo aprovado pelo Parlamento Europeu, a representar a UE em diversas áreas. Todavia, para isso seria necessário o reforço do poder em Bruxelas. Esta alteração não agrada aos países membros, dado que coloca em causa numerosas matérias que são (e devem ser) exclusivas dos governos nacionais e respectivos parlamentos. Se adicionarmos o facto de existirem 25 países-membros e uma crise de funcionamento institucional, percebe-se o impasse político em que se encontra actualmente a UE. Para não complicar ainda mais a questão, prefiro nem referir a crise do modelo social europeu, o problema do desemprego e do mercado laboral, entre outros.
Não creio que exista uma solução imediata, muito menos simples e completamente eficaz para esta situação. A primeira necessidade é que a Europa, e principalmente os seus líderes, apercebam-se do impasse a que se chegou. E não tenhamos dúvidas: uma grande quota de responsabilidade é dos políticos europeus e as suas opções e ideias quase místicas para a UE. É assim necessário não só uma renovação de ideias, de visões, bem como de lideranças na Europa.
A actual situação não pode permanecer por muito mais tempo. É altura de decidir o rumo que a UE tem de assumir: Ou voltamos aos velhos princípios fundadores, ou decidimos avançar com uma integração de forma responsável. Continuar a adiar o problema é que não.
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