terça-feira, junho 13, 2006

Extremismos

Ontem à noite, durante a minha sessão de zapping, confrontei-me com um programa "dito de debate", em que se dicutia o perigo que constituia a "Frente Nacional" para a nossa sociedade. Com alguma curiosidade, assisti por um breve período de tempo, o suficiente para compreender a ignorância e a estupidez presentes naquelas cabeças. O mote da discussão era a insegurança que estas associações causam no seio de uma sociedade, associações assentes em ideologias com pilares extremistas. Para sustentar a ideia (?), passou-se à apresentação de factos. Para isso, nada melhor que comentar a prisão do líder da Frente Nacional e os utensílios que o senhor e restante grupo utilizaram (ou utilizam), para provocar o pânico. No meio da apresentação destes factos, indiscutíveis segundo conclui, a apresentadora tem uma frase excepcional: "O pior de tudo, é nós permitirmos a existência de um partido fascista, de carácter nacionalista, com estas ideias extremistas, quando a nossa constituição o proibe!". Foi neste momento que fiquei completamento siderado. Depois deste argumento, continuei o meu processo de zapping, preferindo recalcar na minha memória aquela discussão.

Devo dizer que fico sempre muito surpreendido com a eloquência e a vivacidade com que muitas pessoas (que se intitulam a favor da liberdade e democracia), criticam veementemente tudo o que se assemelha com ideologias nacionalistas, não se inibindo em colocar os mais diversos rótulos, sendo o mais popular o de fascista e o de "extrema direita". Não se cansam de repetir o perigo que é possuir no nosso espectro político, partidos assentes em ideologias extremistas. Com um certo ruído de fundo, os tambores da extrema-direita assustam tudo e todos. E não é para mais, a mim também me assustam. Os ideais de uma democracia, não se coadunam de forma alguma com os valores extremistas com que certos partidos do espectro político defendem. Porém, é necessário separar as águas. Quando se discute o perigo para a sociedade de grupos nacionalistas, não será certamente pela sua visão dos impostos ou se a maioria dos serviços devem ser públicos ou privados. Trata-se da acção de cidadãos, que por alguma razão, decidiram consciente e intencionalmente, provocar distúrbios nas ruas, ameaçando a ordem de uma sociedade, não respeitando valores essenciais de uma democracia, como o respeito e a tolerância pelo próximo. Preocupa-me tanto este grupo que está a causar distúrbios na nossa sociedade, como qualquer outro, que se possa autodenominar seguidor de um qualquer ideal político. A solução para este problema não envolve longas discussões sobre as qualidades e benefícios de ideologias, mas simplesmente a aplicação imediata da Lei.

A História deu-nos a conhecer o resultado da acção de inúmeras filosofias, pelas piores maneiras possíveis. Demonstrou-nos também, o que aconteceu quando se tentou reprimir determinados nervos da sociedade. O extremismo político, é sem dúvida, um tema difícil e bastante polémico. Tanto à direita como à esquerda, existem exemplos terríveis da sua aplicação. Porém, é necessário ter consciência que antes da sua dimensão política, o Homem possui uma dimensão humana, através do qual se relaciona em sociedade. A má mistura de ambas, foi o mote para trágicos momentos da História. É verdade que são preocupantes muitas das ideias veiculadas por partidos ligados a uma ala nacionalista, de um espectro político extremo. Porém, são tão ou mais preocupantes as filosofias políticas que defendem um clima autoritário, assentes num espectro extremista e que se defendem através de simples truques de semântica.

Nota: Hoje, através do Arte da Fuga, cheguei a este texto do António Torres sobre o mesmo tema.

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