Novamente Ota. Já perdi a conta, ao número de posts e blogs que já li sobre este tema por toda a blogosfera. Na tentativa de dar algumas respostas ao post do Tiago, e de fornecer alguma informação sobre este projecto, escrevo este post, mais técnico que habitual... Primeiro, vejamos alguns factos que temos que ter em consideração, antes de tirarmos conclusões:
- A Portela, que em 2005 vai receber 11 milhões de passageiros, com um crescimento de 5% atingirá o seu limite em 2012; se o crescimento médio for de 7%, atingi-lo-á em 2010/11. O aeroporto, está limitado a uma pista, e segundo estudos, está limitado a 17 milhões de passageiros. Todavia, existem críticas a estes estudos, no sentido de questionar a lotação da Portela.
- O Aeroporto de Gatwick, em Londres, com área semelhante à Portela, movimenta cerca de 30 milhões por ano, com pista única, ou mesmo o antigo aeroporto de Hong Kong, com o mesmo número e com metade da área do da Portela, também movimenta 30 milhões de passageiros anualmente.
- Devido às condições geográficas do local, a Ota estará limitada a 2 pistas e a 30 milhões de passageiros. O preço da obra está projectado em 5 biliões de euros.
- As obras no aeroporto da Portela (construindo uma segunda pista) aumentará a capacidade de passageiros para 27 milhões de passageiros.
- Cerca de 80 % dos passageiros que chegam ao Aeroporto da Portela têm como destino o distrito de Lisboa, e 68% a cidade de Lisboa.
Analisaremos o Aeroporto da Portela e o projecto NAL (Novo Aeroporto de Lisboa), na óptica de vários factores cruciais, na perspectiva de um sustentado desenvolvimento aeroportuário.
A situação económico-financeira portuguersa não permite o desperdício de dinheiro, seja dos contribuintes sejam fundos europeus, daí que esta decisão pode e deve ser tomada à luz de necessidades demográficas e estruturais, devidamente fundamentadas ao nível técnico. Vejamos o que acontece em outros países da Europa, com problemas aéreos semelhantes à Portela. Tanto em Madrid e em Barcelona, houve um enorme investimento no melhoramento dos aeroportos já existentes, não havendo polémicas sobre esta situação, já que todos eram unânimes em "melhorar, até não poder mais". Uma das poucas excepções, aconteceu no aeroporto de Oslo, onde foi equacionada a construção de um novo aeroporto, dada a impossibilidade de ampliação do aeroporto existente.
A Portela possui excelentes condições para constituir o principal aeroporto de Lisboa. Desde já, a inegável rede de transportes existentes em redor desta. A proximidade com a Gare do Oriente (e respectiva conexão) e a futura linha de metro, constituem factores que viabilizam a manutenção do aeroporto. Para além disso, a proximidade da cidade revela-se um bónus. Ao contrário da maioria das cidades europeias, a proximidade à cidade revela-se um factor positivo no encurtamento da distância cidade-aeroporto, o que é altamente justificável nos dias de hoje, dado que quase 70% dos passageiros que desembarcam na Portela, têm como destino a cidade. Hoje em dia, a construção de aeroportos junto às cidades não se verifica, mas a expansão a que Lisboa esteve sujeita nos últimos anos impôs esta particularidade. Reflectindo sobre a questão da segurança, acho que as estatísticas falam por si. A possibilidade de algum acidente envolvendo um avião, é extremamente baixa. Agora, deslocando o aeroporto para a Ota, e colocando em circulação mais 20 000 veículos naquele sentido, diria que as coisas mudam de figura quanto a algum acidente. Num país com a maior taxa de sinistralidade da Europa, quase que aposto que as pessoas terão medo de andar de avião... Nesta linha, colocam-me o argumento das linhas ferroviárias. Segundo estudos que verifiquei, as linhas ferroviárias na Ota são fraquíssimas e seria necessária a sua construção para um bom desenvolvimento da Ota. Desde já, temos aqui um entrave. Por um lado, seria mais orçamento para este projecto, cujos números não param de aumentar, e por outro temos o TGV. Jorge Coelho, quando possuia a pasta do equipamento social, anunciou com pompa e circunstância a construção de um novo aeroporto na Ota, e uma linha de TGV a ligar Lisboa a esta região. Isto é uma utopia, é preciso dizê-lo com todas as letras, ou melhor, se vier a concretizar-se será a Estupidez Sofisticada Major (ESM...) que César das Neves fala.
Voltando ao aeroporto da Portela, que medidas é possível tomar para aumentar a sua capacidade? Muitas mais do que aquelas que são discutidas, pelo que me pude aperceber. Segundo várias estatísticas, o número médio de pessoas por avião na Portela é extremamente baixo, cerca de 78 pessoas. Aeroportos semelhantes ao de Lisboa, têm médias à volta de 108 pessoas. As várias operadoras aéreas que escalam na Portela, mas especialmente a TAP (responsável por cerca de metade do tráfego do aeroporto), poderiam tentar um aumento da taxa de ocupação e/ou contribuirem com a utilização de aviôes de maior capacidade de transporte de passageiros. Outra medida diz respeito à reorganização interna das pistas. Tal como acima referi, aeroportos de características semelhantes ao da Portela, como o de Gatwick, ou mesmo o de Hong-Kong, possuem taxas de passageiros ao nível dos 40 milhões. Para "render" a Portela, era necessário uma reorganização da taxiway actual, prolongando esta para norte, "libertando" a pista principal. Calcula-se, que esta medida aumentaria o número de movimentos em 50%. Outro factor a considerar seria o TGV, não como meio de acesso à Ota, mas sim como "libertador de tráfego". A rota Lisboa-Madrid representa cerca de 17% do trágefo da Portela, que iria ser desviado em grande parte para a linha ferroviária.
O grande argumento contra a Ota, é a limitação de passageiros. Não faz sentido, construir-se um novo aeroporto devido a um aeroporto lotado, para construir outro que ao fim de algum tempo irá ficar lotado novamente. Na Ota, não é possível a construção de mais de duas pistas paralelas, o que restringe em muito o tráfego aéreo, para além da inexistência de uma pista em X, que colocará muitas dificuldades à aterragem de pequenos aviões sob ventos fortes.
Concluindo, a manutenção (ampliação) do aeroporto da Portela, comporta muito mais benefícios para o país, do que a construção de um novo aeroporto na Ota (juntamente com outras infra-estruturas de transportes). Para garantir o limiar de segurança da Portela, para além das propostas avançadas de modo a promover uma maior eficácia no transporte de passageiros, existem vários estudos que indicam que a recuperação do aeroporto do Montijo ao tráfego civil, seria uma boa proposta. Ferreira do Amaral, ex-ministro das Obras públicas, avançou esta hipótese como muito mais consistente do que a eventual construção na Ota. Todavia, é necessário compreender que o investimento na Ota, para além das "habituais" problemas técnicos, está a levantar problemas políticos, e estes não terminarão aqui...
Bibliografia recomendada: Luís Filipe Rodrigues, Aeroporto da Ota - Artigo na Revista Arquitectura e Vida; Artigo de opinião de João Moutinho (comandante da TAP, com pós-graduação em Transporte Aéreo, Aeroportos e Navegação Aérea, Direito Aéreo e Mestrado em Transportes)
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