quinta-feira, dezembro 22, 2005

Entrevista




A propósito dos projectos da Ota e do TGV, o Prof. José Manuel Viegas do IST concedeu uma entrevista ao Semanário Económico cuja leitura recomendo vivamente. O Prof. José Viegas é sem sombra de dúvida das pessoas mais habilitadas para discutir estes temas em Portugal, opinião que ficou claríssima após ter assistido ao debate que teve na RTP com o actual ministro das Obras Públicas, Mário Lino.

Considera os projectos da Ota e da alta velocidade prioritários para o País?

Eu não diria na Ota, mas investir no novo aeroporto de Lisboa é claramente um investimento em capacidade, já que temos um sistema que está a chegar ao limite. Portugal por muito TGV que faça depende para as suas ligações internacionais sobretudo do transporte aéreo. Não nos podemos dar ao luxo de ter o transporte aéreo com dificuldades de atendimento por falta de capacidade porque isso degenera em má qualidade. Concordando ou não com a Ota, o investimento no aumento de capacidade era inadiável.

E a alta velocidade?

Neste projecto não temos nenhum sistema à beira da ruptura, trata-se de dar um salto de qualidade. A questão que se põe é se é oportuno ou não. O tomar a decisão agora não implica que a despesa seja paga de imediato. Há fórmulas, no que diz respeito ao financiamento do Banco Europeu de Investimentos, que prevêem pagamentos diferidos. O esforço público em termos de despesa concreta provavelmente pode ser feito meia dúzia de anos a partir do momento da realização da obra. Se acreditarmos que vamos sair do buraco daqui a alguns anos, pode acontecer que a cobrança dessa factura seja feita no ponto alto do ciclo.

(...)

As ligações que estão anunciadas defendem a soberania do País?

Considero que o principal instrumento de afirmação da soberania e competitividade de Portugal está na criação de uma área metropolitana que, numa primeira fase, deveria ser Lisboa-Porto e, tão cedo quanto possível, Setúbal-Braga. Para sermos competitivos à escala europeia temos de por estes 7,5 milhões de pessoas a trabalhar como se fossem o bairro Sul e o bairro Norte da mesma cidade, e com o bairro Centro (Leiria, Coimbra e Aveiro) também a trabalhar em conjunto. Tem que ser trivial. O tempo poupado tem de ser aproveitado produtivamente. O TGV tem que ser visto como uma alavanca de progresso económico.

(...)

Foi um defensor do traçado do “T” deitado, com a ligação a Madrid a ficar entre Lisboa e Porto, de forma a deixar as cidades portuguesas equidistantes da capital espanhola. Não é esse o projecto do Governo.

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