quarta-feira, março 22, 2006

A saga de um liberal...


- Olha, estou chocado contigo!

- Porquê?

- Li no teu blog que apoias aquela medida do Chirac? Sinceramente...

- Atenção, eu não apoio a medida por ser do Chirac ou do governo francês no poder, mas sim porque acho que é nesse sentido que deve incidir a reforma laboral.

- Pior ainda. Pelo menos os apoios partidários eu compreendo.

- Espera, mas tu compreendes que esta medida vai ajudar a combater o desemprego, certo?

- O quê? Estás maluco? Isto só vai piorar as coisas, ainda por cima para os jovens licenciados onde já era tão difícil arranjar emprego. Ao fim de dois anos são despedidos de certeza!

- Desculpa, mas não acho que seja assim. Aliás, não percebo porque é que a lei é aplicada só a uma determinada faixa etária. Uma reforma nesta área, tem como principal objectivo libertar a legislação proteccionista, de modo a que seja mais fácil despedir um trabalhador. É que existe uma razão para as empresas não oferecerem mais emprego, é que têm medo de contratar um mau funcionário e não poder despedi-lo...

- Mas será que não compreendes o que irá acontecer? A partir do momento em que se torne muito caro sustentar alguns trabalhadores mais velhos, são logo substituídos! Tudo em nome dos lucros! Querem lá saber dos trabalhadores, viva o capitalismo!

- Repara, existe duas formas de encarar o problema. Uma é continuar assim, ou seja, com uma legislação laboral densa que defende exageradamente o trabalhador. As empresas continuarão a reduzir o número de postos de trabalho, e os processos de investimento e expansão empresariais vão começar a diminuir. Com tudo isto, é mais que certo que as taxas de desemprego continuem a aumentar. Por outro lado, podes flexibilizar as leis de modo a que o mercado laboral se torne mais dinâmico. As empresas não terão receio de contratar novos funcionários, de modo a conseguir captar os mais competentes e os de maior mérito. Neste clima que se cria, apenas os maus trabalhadores têm a temer. A era do trabalhador protegido por uma série de direitos acabou. A protecção do trabalhador tem de passar necessariamente pelo desempenho das suas funções, e pela sua capacidade produtiva na seio da empresa. E não nos esqueçamos que não é mais barato despedir um trabalhador antigo para colocar um novo, pois existem sempre custos de integração, e vejamos que não são nada baratos. Então, o que me dizes? É ou não é um bom caminho a flexibilização das leis laborais?

- É bonito, mas a realidade é outra. Deves julgar que todos nós estamos no teu curso, e que temos emprego garantido no final, certo? As coisas para nós são complicadas, mas complicadas a sério, percebes?

- Sim, percebo. O que não percebo é porque não querem mudar o regime que levou a esta situação!

Sem comentários: