quarta-feira, janeiro 25, 2006

Remodelar ou esperar pelo ticket de PM




A eleição de José Sócrates como secretário-geral do PS e a sua posterior eleição como PM remodelaram ideologicamente o partido socialista, havendo uma viragem socialista ao centro, com uma aproximação à social-democracia. Desta forma, PS e PSD tornaram-se muito próximos ideologicamente, para além do centrismo que já os caracterizava. Esta aproximação que o André Abrantes Amaral refere num post abaixo, tem na sua opinião uma implicação directa na remodelação do PSD. Eu arrisco a dizer que não, embora possa ser favorável.

Marques Mendes tem noção que o poder político em Portugal é tendencialmente alternante, e não é mediado pelas ideias do partido mas sim pelos resultados directos de uma determinada governação. Assim cultivou-se nos últimos tempos, a espera pelo "ticket" de PM.

Todavia, este método de conquistar o poder pode sofrer algumas alterações. O primeiro facto a ter em conta, é a aproximação social-democrata do PS. Embora constituindo dois partidos de centro, PS e PSD sempre conseguiram mostrar diferenças em determinadas áreas. Porém, nas matérias mais sensíveis, nomeadamente económicas, assiste-se a um consenso que ambas as partes tendem a evitar, principalmente o PSD. Será que este aspecto pode condicionar o bilhete de Marques Mendes? Provavelmente não, mas pode dificultar o seu acesso.

A eleição de Cavaco pode despoletar mecanismos internos tanto no PS como no PSD como referi em plena noite eleitoral. Porém, acho que não fui bem compreendido. O PSD não pode contar com Cavaco, e é vital o distanciamento o mais possível da sua governação. A eleição do ex-líder é um benefício, mas a curto prazo. Agora, as preocupações são outras.

Acalentados pela eleição do professor para Belém, não seria de espantar que a ala cavaquista do partido tentasse posicionar-se para ter um papel mais preponderante no partido. De modo a não colocar o epíteto de cavaquista a este movimento, a ala liberal poderia assumir a liderança deste grupo. Pode parecer um exercício difícil, mas não impossível. Não nos esqueçamos que vários cavaquistas nos últimos tempos têm assumido publicamente posições claramente liberais, como Pacheco Pereira ou António Borges, o liberal tout-court por excelência dos sociais-democratas.

Este cenário torna-se mais convincente se tivermos em conta que a eleição do líder do PSD passará a ser feita por eleições directas. Esta é uma clara desvantagem para Marques Mendes, perante a maioria dos possíveis candidatos. Mendes sendo uma pessoa que se movimenta extraordinariamente bem no interior da máquina interna, poderá sentir dificuldades com directas.

O timing das directas poderá ser essencial na maneira como o partido se reorganizará. Hoje no Diário Económico, tanto António Borges como Luís Filipe Menezes, acham que as directas devem ser adiadas o mais possível, pois muito cedo Mendes corre o risco de perder a liderança, e estes são declaram-se como defensores da estabilidade.

Estas declarações são deveras interessantes. Se existirem candidatos para defrontar Marques Mendes na liderança, esses serão certamente Menezes ou Borges. Se primam pela estabilidade política, poderiam apenas dizer que não se candidatavam...

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