Esta campanha eleitoral, com todas as particularidades que teve e dos inúmeros episódios chatos que produziu, teve momentos interessantes.
Na escolha dos candidatos, apenas no PS estas eleições causaram cisões. Numa altura em que todos olhavam para Cavaco como o sucessor de Jorge Sampaio, a escolha do candidato da esquerda revelava-se uma tarefa com nenhum final em vista. No seu programa na RTP, Marcelo Rebelo de Sousa lança o nome de Soares. A opinião pública reage com alguma prudência, lembrando-se do célebre discurso de Soares no ano anterior, e Manuel Alegre que já algumas semanas se tentava posicionar na corrida a Belém, mostra-se disponível para enfrentar Cavaco. Precisamente no dia a seguir a estas declarações de Alegre, Soares em declarações aos jornalistas refere não colocar nenhum cenário de parte. Foi esta sucessão de acontecimentos que levaram à emergência de dois candidatos no seio do socialismo. Soares, o candidato do PS, como ele fez questão de referir no seu discurso, e Manuel Alegre que após algumas semanas de tabus, decidiu avançar.
Desde muito cedo, Cavaco dominou por completo as sondagens. A sua campanha cuidadosamente programada ao mais pequeno detalhe, estava a dar resultados. Desde o anúncio da sua candidatura, passando pelos seus discursos e escolha de mandatários, Cavaco mostrou o rigor e o profissionalismo que coloca nesta eleição. A imagem de trabalho e de presidência activa que tentou passar ao elitorado foi muito bem recebida, ajudada pela péssimo começo dos adversários.
Soares iniciou a campanha procurando uma bipolarização. Tal era necessário, pois necessitava de concentrar em si votos para poder reclamar-se como o candidato da esquerda. Porém, a estratégia para tal foi muito mal elaborada. As críticas de Soares, muitas vezes com recurso a acusações ad hominem foram muito mal recebidas pelo eleitorado. A tentativa de colar a imagem de um regime presidencialista a Cavaco, de não cumprimento da constituição foram um fracasso. Pelo contrário, Cavaco dava-se ao luxo de referir que iria ter um papel activo, fiscalizador, o discurso que o público ansiava. Para complicar as coisas, Manuel Alegre começou a campanha com um tónico. Assumiu-se como o candidato de Abril, da liberdade, de uma candidatura contra o sistema, sem nenhum apoio político, um exercício de cidadania. Todavia, nem tudo foram cravos, já que o fantasma de ter sido rejeitado pelo PS continuou sempre a persegui-lo.
Entre o triângulo dos verdadeiros candidatos, surgiram dois líderes que procuram marcar posições. O seu objectivo é manter o seu eleitorado, lembrar que o partido comunista e o bloco de esquerda existem naquela campanha. O alvo da campanha era Cavaco Silva. Jerónimo com o seu discurso de defesa dos trabalhadores, erguendo-se contra os poderosos senhores do capital, segundo ele, aqueles que transportavam Cavaco para Belém. Louçã por sua vez, tendo um começo atribulado, dada a transferência de Joana Amaral Dias para a candidatura de Soares, iniciou a campanha por aquilo que melhor sabe fazer - o discurso demagógico e irónico, todos os dias apregoando a derrota da direita.
Passados estes primeiros dias de pré-campanha, chegam os tão aguardados debates. Divididos por três estações de televisão, a esquerda esfrega as mãos pela desejada queda de Cavaco. Os debates revelaram-se completamente inúteis. Completamente vazios de ideias, assemelharam-se a uma entrevista em simultâneo com dois candidatos. Mas o último debate guardava alguma expectativa, o confronto Soares/Cavaco. O resultado não poderia ter sido pior para o candidato socialista. O desejo da total separação de Cavaco, fez com que não apresentasse qualquer ideia para o país, comentando grande parte do tempo a governação de Cavaco e apresentando um discurso agressivo e arrogante que não o favoreceu em nada. No final desta ronda de debates, quem beneficiou foi mesmo Cavaco, que descolou ainda mais nas sondagens.
E por fim, chegamos mesmo às últimas semanas de campanha. Passado o tónico inicial de Manuel Alegre, este aposta numa rota eleitoral diferente, apostando em locais emblemáticos e em memórias da revolução. Soares, claramente a perder para Manuel Alegre, reduz os ataques a Cavaco Silva tentando mobilizar o eleitorado socialista, claramente favorável a Alegre. Jerónimo entre metáforas consegue encher o pavilhão Atlântico, e superar o líder do Bloco. Louçã, com o seu discurso vitorioso mesmo nas condições mais inóspitas, faz um apelo ao votos dos indecisos socialistas, numa última tentativa de concentrar o voto em si. Entre todos estes candidatos, de vez em quando assitimos a Garcia Pereira a criticar o PR e o Governo, enfim, nada a que ninguém esteja habituado. Porém, Cavaco permanece destacado acima da fasquia dos 50%, o candidato que disputa a eleição logo à primeira volta. Com uma campanha cuidadosamente preparada, sem incidentes e com uma mensagem simples e consistente para o eleitorado. E é com a convicção da eleição que encara o próximo Domingo.
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